Aborto: um luto invisível
- Psicóloga Adriane Souza

- 13 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de dez. de 2024
Quando o segundo positivo veio, eu não esperava; não estava nos planos. Tive uma crise de ansiedade.
A confirmação chegou com o exame de sangue e os sintomas típicos. Iniciei o pré-natal e, com minha psicóloga, trabalhei na aceitação dessa nova gravidez. Eu já tinha uma filha de quase 2 anos e não desejava engravidar novamente.
Seguiu-se um mês de ansiedade, preocupação, criação de expectativas e aceitação dessa nova criança em nossas vidas. Porém, algo inesperado aconteceu: surgiram sangramentos e dores na região pélvica. No tão aguardado primeiro ultrassom, recebi um mau prognóstico: não havia batimentos cardíacos nem sinais de circulação sanguínea no Doppler colorido. Orientaram-me a aguardar uma semana e refazer o exame para confirmar a não evolução da gestação.
Fui muito mal atendida no pronto atendimento público. Estar em meio a outras grávidas vivendo suas gestações com tranquilidade me revoltou e causou uma dor profunda. Eu pensava: "Por que elas estão tendo seus bebês e eu não? Por que tive que perder o meu?"
Foi extremamente doloroso fazer o segundo ultrassom. O resultado confirmou o aborto retido. Ver a imagem me marcou profundamente, doeu, e intensificou a sensação estranha de ter algo morto dentro de mim. Era como se eu tivesse e, ao mesmo tempo, não tivesse meu bebê comigo. Após o exame, disseram-me que eu poderia aguardar em casa, adotando a conduta expectante, sem a necessidade imediata de curetagem, pois o sangramento havia se intensificado.
As dores foram intensas. Eu senti medo, passei mal, chorei muito e me senti frágil e vulnerável. Após uma semana, voltei ao pronto atendimento público, que infelizmente fica em outra cidade. Um novo ultrassom confirmou que tudo havia saído naturalmente.
Passei por tudo isso com o apoio da minha psicóloga, pois faço psicoterapia. Esse suporte foi fundamental para que eu não me perdesse em meio à dor e pudesse expressar livremente tudo o que estava sentindo durante esse episódio tão terrível da minha vida.
Foi uma perda e uma dor que atingiram toda a família. Todos ficaram tristes, em luto, e também revoltados. Ao gerar uma nova vida, não esperamos que a morte esteja tão próxima. Parece algo errado, fora do normal.
O luto por uma perda assim pode ser difícil de encarar e vivenciar. Não deixe de procurar assistência profissional psicológica, entre em contato.



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